domingo, 15 de abril de 2012

MERCEDES-BENZ 170 S

O PROJETO W136 FOI A BASE SOBRE A QUAL A MARCA SE REERGUEU APÓS A SEGUNDA GUERRA

 POR FABIANO PEREIRA | FOTOS MARCO DE BARI





Sabe aqueles filmes em que a raça humana é quase dizimada e só sobra um casal ou um grupo pequeno para repovoar a Terra? O Mercedes 170 V se identifica com essa história. Conhecido pelo código W 136 e lançado em 1936, ele fazia par com o novo 170 H (leia texto ao lado). A dupla era mais uma prova da fervilhante criatividade da marca na época, como seus possantes carros com compressor, caso dos esportivos 500K e 540K e do luxuoso 770. Mas, então, veio a Segunda Guerra e todos sumiram do mapa. O 170 V (de Vorn, "frente" em alemão) foi o único que retornaria. Seu desenho era simples, mas tão elegante quanto os irmãos maiores e mais luxuosos. As portas dianteiras abriam para trás. Os para-lamas eram elementos ressaltados, embora já integrados ao conjunto. O volume do porta-malas ainda era só um ressalto acessível por dentro do carro. O chassi tubular oval tinha uma construção em X, que permitia menor peso com entre-eixos maior. Ele vinha em diversas configurações, como sedã de duas e quatro portas e conversíveis. Com fama de confiável e suave, seu quatro-cilindros (dois a menos que do seu antecessor) de 1,7 litro produzia 38 cv. O câmbio manual tinha quatro marchas e o levava a até 108 km/h. Até 1942 foram feitos 71 973 carros, além de 989 vans. Eram anos de contenção econômica. Ele foi, de longe, o Mercedes mais vendido antes da Segunda Guerra. Terminado o conflito, a marca retomaria sua produção em maio de 1946. A fábrica na cidade de Sindelfingen foi a que tinha sofrido menos avarias. Por isso serviu de base para ajudar a reerguer o que seria o império atual da Mercedes. Seu único modelo era o 170 V, produzido como picape, van e ambulância. Só em julho de 1947 o sedã voltaria às ruas. Melhorias vieram aos poucos, como o 170 D (diesel), de 1949. O novo top de linha se chamava 170 S e o cabriolet estava de volta. No ano seguinte, ele sofreria mudanças na suspensão e nos freios. Os motores cresceram para 1,8 litro e a potência subiu para 45 cv. Agora havia uma tampa traseira que dava acesso ao porta-malas. O carro das fotos é um genuíno pós-guerra, um 170 S 1951. A maçaneta externa é um engenho curioso: com a chave na fechadura, gira-se à direita para abrir e entrar no carro. Para a esquerda, ela fica solta, girando livre, impedindo a abertura da porta, num inusitado sistema antifurto. Por dentro, o revestimento de madeira confere um toque sofisticado. O radio Becker pega a BBC de Londres em ondas curtas e o relógio é movido a corda. A partida se dá com a chave virada e um botão pressionado com o pé. Abaixo do painel, há um pedal extra, que lubrifica a suspensão. "Ele é mais rápido que alguns modelos V8 americanos", diz o dono. Ainda hoje, o 170 S vai a 90 ou 100 km/h em velocidade de cruzeiro sem dificuldade. Em 1952, o câmbio passou para a coluna de direção e o botão de partida migrou para o painel. Mesmo com a chegada de outros modelos - inclusive seu substituto, o Ponton (projeto W 120), em 1953 -, sua produção continuou até setembro de 1955. Assim, o 170 V e seus descendentes entraram para a história por propiciar a continuidade da Mercedes em seu momento mais delicado. Foi sua simplicidade e confiabilidade que mantiveram aceso o brilho da marca da estrela, que após a Guerra ganhou a oportunidade de repovoar o mundo do automóvel.


     170H


Apesar do nome parecido, o 170 H (foto) era um carro diferente. Usava o motor do 170 V, mas atrás. Era mais ruidoso e caro. O estilo parecia muito com o do Fusca, mas com um motor refrigerado a água. Com meras 1 507 unidades produzidas, hoje é uma raridade de colecionador.

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